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Ser alguém 411p4p

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Por Everton Ruchel
Foto Arquivo Pessoal

Tenho a impressão que vivemos numa era em que muitas pessoas sentem que precisam realizar grandes gestos simbólicos ou se unir a grupos específicos para demonstrar valor moral, consciência ou identidade. Essa tendência revela uma necessidade profunda de pertencimento, algo humano, mas que, quando mal compreendido, pode se transformar em dependência emocional ou em uma forma de autoengano.

Fazer parte de um grupo é uma necessidade básica. Desde os primórdios da humanidade, a sobrevivência dependia do coletivo. Estar junto significava proteção, partilha e sentido. Hoje, embora o contexto tenha mudado, o impulso permanece. Queremos ser aceitos, vistos, reconhecidos. Procuramos comunidades nas quais possamos nos identificar e ser acolhidos. Isso, em si, não é um problema. O desafio começa quando o pertencimento deixa de ser uma escolha livre e a a ser uma exigência velada para ter valor social.

É comum vermos pessoas entrando em grupos espirituais, coletivos ativistas, movimentos de saúde ou estilos de vida alternativos, muitas vezes mais pelo desejo de aceitação do que por convicção. Há quem siga à risca determinadas práticas ou até mesmo mude completamente sua aparência e forma de falar, apenas para "fazer parte". Não há nada de errado com esses caminhos, eles podem sim proporcionar crescimento. O problema é quando se tornam máscaras, e não pontes.

Um exemplo emblemático disso foi o caso de Tim Maia, que, no auge de sua carreira, em 1975 mergulhou de cabeça na doutrina da Cultura Racional. Converteu-se com fervor, mudou radicalmente sua rotina, ou a adotar um discurso quase missionário e até lançou dois discos marcados pela nova crença. No entanto, algum tempo depois, desiludido, rompeu completamente com o grupo. Em entrevistas posteriores, chegou a se referir a essa fase com um misto de ironia e aprendizado. A história mostra como até mesmo alguém com personalidade forte e vida consolidada pode ser atraído por uma promessa de sentido absoluto, e como, ao perceber o risco de se perder de si mesmo, é possível recuperar a autonomia e seguir em frente.

Por trás dessa necessidade de pertencer, muitas vezes está o medo de estar só, de ser invisível, ou de parecer indiferente. Em uma sociedade hiperconectada, onde todos expõem suas causas nas redes sociais, parece que é preciso sempre "estar fazendo algo", "fazendo parte de algo", para ser considerado relevante ou ético. A ausência de pertencimento é lida quase como uma falha de caráter, quando, na verdade, pode ser apenas um sinal de maturidade emocional.

É preciso aprender a diferenciar a vontade de se conectar da necessidade de se afirmar por meio do outro. Ser alguém não está em frequentar os mesmos lugares, repetir as falas ou aderir a um estilo de vida popular. Está nas atitudes diárias, na ética aplicada quando ninguém está olhando, na capacidade de questionar até mesmo os grupos dos quais fazemos parte. Afinal, integridade não é pertencer, é permanecer fiel aos próprios princípios, mesmo quando isso significa caminhar contra a maré.

Não precisamos seguir um roteiro de pertencimento. Basta ter honestidade, humildade e compromisso. E isso, quase sempre, acontece em silêncio.

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