O transtorno do espectro autista (TEA) é uma condição que impacta milhares de famílias brasileiras. Com o aumento no número de diagnósticos, cresce também a importância de entender o autismo, seus sinais precoces e as formas adequadas de intervenção.
O que é o transtorno do espectro autista?
O TEA é um transtorno do neurodesenvolvimento que afeta a forma como a criança se comunica, interage socialmente e responde ao ambiente ao seu redor.
“É uma condição em que a criança pode perder alguns marcos do seu desenvolvimento ou não os alcançar nos primeiros anos de vida”, explica o médico neurologista infantil e adulto, Dr. Marcus Vinícius Abatti. Segundo ele, é possível observar sinais desde os primeiros meses e, a partir de um ano e meio, já se pode obter um diagnóstico confiável.
Sinais de alerta nos primeiros anos
Entre os sinais mais comuns, o médico destaca a dificuldade no contato visual, principalmente durante a amamentação, a hipotonia (fraqueza muscular), a ausência de resposta a interações sociais e atrasos nos marcos motores e de fala.
“Temos que ter atenção ao atraso na caminhada e na fala. Ao contrário do que muitos dizem, para caminhar e falar não existe ‘cada criança tem seu tempo’”, frisa o especialista.
Níveis do espectro: e individualizado
O TEA se manifesta em diferentes níveis, conforme a necessidade de e da criança:
- Nível 3: necessita de auxílio constante em tarefas básicas como alimentação e higiene;
- Nível 2: já apresenta alguma independência, mas com limitações na comunicação e interação;
- Nível 1: maior autonomia e linguagem mais desenvolvida, ainda que com dificuldades sociais.
“O nível de e não é fixo. Uma criança de 1 ano e 8 meses, por exemplo, pode ser classificada inicialmente como nível 3, mas com intervenção precoce, pode progredir muito. Tudo depende da idade, das terapias e da neuroplasticidade”, explica o médico.
A importância da intervenção precoce
Intervenções realizadas antes dos três anos de idade são cruciais. “Quanto mais cedo o diagnóstico, maior a chance de desenvolver habilidades fundamentais. A terapia com fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e psicólogos pode fazer toda a diferença”, destaca Dr. Marcus.
Mitos e fake news: cuidado com as redes sociais
Com o aumento do debate sobre o autismo, surgiram também muitos mitos e informações equivocadas.
“Um dos mais comuns é dizer que ‘não tem cara de autista’. O autismo não tem aparência, é um transtorno do neurodesenvolvimento. Outro equívoco é pensar que o tratamento se resume a medicamentos. O principal tratamento é a intervenção precoce com terapias”, alerta o neurologista.
Autismo não é modismo
Diante do aumento de diagnósticos, muitos alegam que o autismo “virou moda”, mas o especialista rebate: “Hoje temos mais recursos diagnósticos, mais informação e, com isso, identificamos casos que antes avam despercebidos. O diagnóstico precisa ser feito com critério, com base em observações clínicas e testes específicos”.
Traços ou diagnóstico fechado?
Nem toda criança com algumas características do espectro é, de fato, autista. “Utilizamos critérios do DSM-5 para o diagnóstico. Quando há dúvida, é indicada uma avaliação neuropsicológica ou psicopedagógica para aprofundar a análise”, esclarece o médico.
O papel de outros profissionais e da escola
A equipe multidisciplinar é essencial: fonoaudiólogos, psicólogos, psicopedagogos e terapeutas ocupacionais, além da participação ativa da escola. “Os professores são fundamentais. Muitas vezes são eles que percebem os primeiros sinais, já que convivem diretamente com as crianças em situações sociais”, comenta Dr. Marcus.
Informação é inclusão
A inclusão começa pela conscientização. “Se não informamos, não compreendemos e acabamos excluindo. O autismo não limita o futuro. Tenho pacientes que estão na faculdade, formados, com família. O diagnóstico não define o que a criança pode ou não ser”, afirma o neurologista.
Para os pais: atenção e acolhimento
Se há suspeita de autismo, o primeiro o é procurar um médico. “Pode ser o pediatra, clínico geral ou diretamente um neurologista ou psiquiatra. O importante é agir cedo. E, principalmente, lembrar que vocês não estão sozinhos. Há profissionais que caminham ao lado das famílias. Diagnóstico precoce salva tempo e melhora a vida da criança”, finaliza Dr. Marcus Vinícius Abatti.