A exemplo do calendário da Roma Antiga, criado por Rômulo, em 753 a.c., para alguns patrícios privilegiados, o primeiro mês do ano permanece março. Aliás, março vem de Martius, de Marte, deus romano da guerra.
Fevereiro, também tem origem curiosa. Dedicado ao deus da purificação dos mortos, Februa, tem a mesma raiz de febre, a quem os romanos ofereciam sacrifícios para expiar as faltas cometidas durante todo ano.
Sendo assim, lá pelo final de fevereiro, por aqui, surgiram as notícias mais próximas do vírus chinês. Até aí, tudo parecia normal, pois o mês da guerra não havia chegado. Nada de grandes atropelos, até porque as coisas pareciam estar indo para os devidos lugares. O Ministério da Saúde, por sua vez - antes de se tornar um órgão submetido de fato ao Poder Judiciário -, alertou aos Estados sobre os riscos de contaminação endêmica, semanas antes do carnaval.
Como não vou falar em política hoje, somente lembro que o tempo ou rápido e as preocupações e desesperos eclodiram logo depois das festas de Momo.
Desta forma, sem maiores tréguas ou descansos, o primeiro bimestre ficou distante, dissociado do atual ano corrente. Diria, inatingível no mais amplo sentido.
Sem aviso prévio, repentinamente – pelo menos para nós plebeus, escravos e proletariado, de acordo com a terminologia romana – saltamos dos meses de ócio para os patrícios, para o inverno (ou inferno) da Covid-19 que parece não ter fim.
A pandemia amanheceu em março inaugurando o ano novo maldito. Não nos deu ao menos oportunidade de despedida de um tempo melhor que parecia se desenhar no horizonte. Simplesmente fomos atropelados e postos em quarentena de uma hora para outra.
De lá para cá foi uma sequência de desgraças, sofrimentos, perdas, dores, agressões, escândalos e fake news intragáveis e ináveis. Além do mais, alguns órgãos de imprensa fazem das tripas ao coração para conduzir a massa à desesperança total e avassaladora. Nos momentos mais exaltados, afirmam que jamais o mundo vai superar a presente crise.
Assim, ante a tantas incertezas e indecisões, para não cair na imensidão do desalento generalizado, e não correr o risco de ser o último ao apagar a luz ou ficar pregando no deserto - na eventualidade de sobreviver ao vírus – apelo à força de vontade e ao bom caráter de cada amigo leitor.
Reitero, portanto, que somente a soma de reações individuais e particulares pode nos conduzir de modo razoável ao final dessa triste e longa guerra.
Hoje todos sabem o que fazer. Não há mais espaço ou tempo para fraqueza de espírito ou má vontade sectária. Desistir dos cuidados sanitários e demais recomendações de higiene, bem como não manter um razoável distanciamento entre as pessoas, nesse momento crucial, soa como desrespeito à vida e traição à civilidade.
Sim, é tempo de ouvirmos a nossa voz interior, sermos dogmáticos, verdadeiros, indiferentes a desejos e pressões céticas e irredutíveis. Temos a obrigação de exercer a solidariedade e nos unir em ideais superiores, além de dar um basta ao relativismo oportunista e parasitário de algumas sinecuras que pensam em nos engambelar novamente.
Por outra, lembremos que menos de um semestre nos separa do final do ano. Talvez em 2021 não aconteçam férias de verão ou mesmo carnaval. Mas, certamente, não faltará paz e prosperidade aos brasileiros e brasileiras de boa vontade. Bons tempos, em breve, hão de vir. Pouco falta. Certos ou errados, aos trancos e barrancos, estamos superando a crise dia após dia.
E acreditem em mim, médico antigo – não tanto quanto Roma - e muito experimentado na vida: Amor, respeito, esperança e caldo de galinha, fazem muito bem a saúde. Essa é a mais pura verdade.
PS: Semana ada critiquei a mídia abutre. Não me referi a qualquer veículo de comunicação local ou estadual e muito menos aos seus colaboradores. Meu desacordo se dirige a um conglomerado global, o que ratifico agora. Peço desculpas, se mal me expressei.
Médico e Membro da Academia Erechinense de Letras