Culpa ou consciência? 3mv6x
O leitor até pode questionar por qual razão continuo falando sobre um assunto que aconteceu do outro lado do planeta, bem distante do Brasil. De certa forma tem razão o leitor, mas há coisas que acontecem em todo lugar e que podem despertar a reflexão noutras partes do mundo. Mas se já não sabes do que estou falando, me refiro ao apagão na Europa, ocorrido na semana ada.
Manifestações
No dia a seguir ao evento, foram muitas as manifestações. Teve gente que preferiu dedicar o tempo para culpar o governo, mas teve muita gente que resolveu fazer do limão uma limonada. Relatos de quem viu o lado bom da história. Os parques ficaram lotados, numa segunda-feira que ninguém imaginava que fosse se tornar um feriado. À noite não faltou criatividade. Jantar à luz de velas, o bom e velho baralho, quebra-cabeças e projeção de sombras com a lanterna. Tudo foi improvisado para aliviar as tensões provenientes da guerra. “Estamos de volta aos anos oitenta”, disseram alguns pais que foram criança naquela década. Da parte delas, muitas relataram ter adorado o dia, porque tudo foi novo e diferente. Algumas crianças até querem que falte luz outra vez e manifestaram a satisfação de estarem longe das telas. Acabaram por experimentar uma presença que nunca vivenciaram.
Culpa
Não é possível esconder o sentimento da grande maioria. Muitos pensaram que o apagão tinha relação com a guerra. Muitos ainda acreditam nisso. Até eu. Mas vamos olhar para a parte cheia do copo. Há um certo sentimento de culpa na paternidade. Uma culpa que foi revelada pela impossibilidade de fazer uso dos eletrônicos. Pais e filhos perceberam isso perfeitamente. Se deram conta de que a vida continua para além das telas e buscaram ar o tempo com criatividade. A falta de energia acabou revelando que, de fato, as tecnologias afastam as pessoas do convívio, mesmo dentro da própria casa. Um verdadeiro paradoxo.
Consciência
No final das contas, o blecaute teve mais pontos positivos do que negativos. Se a ação governamental falhou (e falhou mesmo), a técnica foi impecável, como dizem os portugueses. A energia foi restabelecida em bem menos tempo do que já se esperava. Se foi por conta da guerra ou não, serviu de alerta para população refletir sobre o que fazer e o que não fazer. De toda essa consciência gerada, acredito que a relação familiar tenha sido a grande vencedora. Não faltaram pessoas mais exageradas a dizer que a vida estava bem melhor sem a energia elétrica.
Exemplo
São muitos os exemplos que ficam desse apagão. Na comunicação social, restou a certeza de que quando os governantes são lentos em dar resposta (como foi o brasileiro nas enchentes do ano ado), as fake news tomam conta do noticiário. Desta vez, só não foi pior porque as comunicações também cairam com a falta de energia. E por falar em fake news ou mesmo piada, os portugueses viram as brincadeiras que rolaram. Fotos de escadas rolantes paradas, lotadas de portugueses esperando voltar a energia. Mas por Portugal também tem piada de brasileiro. A mais recente, diz respeito à seleção de futebol vestir camisolas (camisetas) vermelhas. Se for verdade, é sinal que o apagão também chegou ao Brasil.