Com o avanço das tecnologias e o uso massivo das redes sociais, especialistas têm observado um impacto significativo no bem-estar emocional, especialmente entre adolescentes e jovens adultos. Embora ainda faltem evidências científicas que comprovem uma relação direta de causa e efeito entre redes sociais e transtornos mentais, como ansiedade e depressão, a psicóloga clínica Juliana Jaboinski, especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental e professora de Psicologia na URI, alerta para os perigos ocultos que o uso excessivo das plataformas digitais pode trazer. Ela ressalta que os efeitos são complexos e multifatoriais.
Ansiedade e depressão: redes são vilãs?
A psicóloga Juliana adverte que não se pode estabelecer uma relação direta entre o uso de redes sociais e transtornos como ansiedade e depressão. Segundo ela, “em hipótese alguma nós poderíamos simplificar dizendo que a pessoa está com depressão ou ansiedade por conta do uso da rede social. Isso não é possível, essa simplificação, essa generalização”.
Ela explica que possíveis estudos podem ser correlacionais, ou seja, mostram que o aumento no uso das redes ocorre junto ao aumento de transtornos mentais, mas não há comprovação de que um causa o outro. “Ainda assim, não é possível estabelecer uma relação de causa e efeito”, reforça.
A comparação constante e a sensação de inadequação
Na prática clínica, Juliana observa um padrão recorrente entre seus pacientes: sentimentos de fracasso e inadequação associados à comparação com vidas aparentemente perfeitas vistas nas redes. “A gente assiste a vida de muita gente, que não é a vida real, é uma vida editada. E isso tem provocado nas pessoas uma sensação de impotência, de fracasso”, comenta.
Ela ressalta que os conteúdos publicados são altamente seletivos, o que leva o usuário a se comparar com uma versão idealizada dos outros, esquecendo que se trata apenas de uma fração da realidade. “Essa ideia projetada de que todo mundo é mais feliz, mais produtivo, mais bonito, é extremamente nociva”.
Efeitos psicológicos mais comuns do uso excessivo
Além da comparação social, o uso prolongado das redes também pode causar sobrecarga mental. Segundo a psicóloga, o cérebro é exigido de maneira intensa quando exposto a conteúdos que mudam rapidamente, como vídeos curtos e reels. “A pessoa tem uma impressão de que está descansando, mas ela não descansa. Na verdade, sobrecarrega o cérebro”.
Essa sobrecarga pode se manifestar em forma de cansaço, irritabilidade e até desmotivação com a própria vida. “O humor vai mudando, a sensação de insatisfação vai aumentando”, alerta Juliana.
Jovens são mais vulneráveis?
De acordo com a psicóloga, adolescentes e crianças estão mais suscetíveis aos impactos negativos das redes sociais. Isso se deve, principalmente, ao estágio de desenvolvimento cerebral e emocional em que se encontram. “Talvez eles não tenham ainda tanta compreensão ou tenham mais dificuldade de fazer esse filtro”, analisa.
Já os adultos, apesar de também serem influenciados, podem desenvolver mecanismos de proteção mais eficazes. “Alguns conseguem filtrar melhor, fazer um uso mais consciente”.
A importância da regulação e do uso consciente
Juliana acredita que regulamentações, como limites de algoritmos e exigência de transparência das plataformas, poderiam ajudar na proteção da saúde mental. “Às vezes penso que, se forem feitas algumas restrições, algumas regulamentações, podem ajudar de diversas formas”.
Ela também destaca o papel do autoconhecimento. “A melhor coisa a se fazer é itir a influência. Nós temos um nível de influência que é pré-consciente, é um processamento implícito. E você é, sim, influenciado. Ponto. E eu sou categórica”, afirma.
Caminhos para um uso mais saudável
Para promover um uso mais equilibrado, a psicóloga sugere algumas estratégias simples, mas eficazes. “Uma boa prática é usar as ferramentas de controle de tempo que os aplicativos oferecem. Outra é fazer uma curadoria dos perfis seguidos, entendendo que cada conteúdo tem um impacto emocional.
Ela enfatiza também a importância de substituir o tempo de tela por atividades prazerosas e que favoreçam a conexão com o momento presente. “Assistir um filme em família, cozinhar juntos, tomar um café. São experiências que ajudam a fortalecer os vínculos e reduzem o uso compulsivo das redes”.
O papel da família
Juliana reforça que o acompanhamento dos pais é essencial no caso de crianças e adolescentes. “Os pais devem fazer o controle do que os filhos assistem. Observar o tempo de uso, mas também quem eles estão seguindo”.
No fim das contas, a chave está em reconectar-se com os próprios valores e desejos. “Quando estamos muito expostos à opinião dos outros, podemos perder nossa clareza interna. É importante ouvir menos o que o outro acha e mais a nossa própria bússola interna”, conclui a psicóloga.