A Síndrome de Morsier, também conhecida como displasia septo-óptica, é uma condição congênita e rara que afeta principalmente a visão e o desenvolvimento neurológico de crianças. Caracteriza-se por três principais alterações: hipoplasia do nervo óptico, ausência do septo pelúcido (estrutura cerebral que separa os ventrículos laterais) e, em muitos casos, disfunções da hipófise. Essas alterações impactam diretamente a capacidade visual e o desenvolvimento global da criança. “A gravidade depende da extensão do comprometimento do nervo óptico”, explica a Dra. Daniele Bica Madalozzo, oftalmologista do Instituto de Olhos Santa Luzia, especialista em Oftalmopediatria e Estrabismo.
Sinais oftalmológicos e diagnóstico precoce
Os sinais visuais mais comuns incluem nistagmo (movimentos involuntários dos olhos), baixa acuidade visual, dificuldade para fixar e seguir objetos, estrabismo e alterações perceptíveis no fundo de olho, como disco óptico pálido ou pequeno. Para identificar a síndrome, são realizados exames clínicos oftalmológicos, complementados por testes como tomografia de coerência óptica (OCT), campimetria e potenciais evocados visuais. A confirmação se dá por meio de ressonância magnética, que analisa as estruturas cerebrais e a hipófise. “É o exame que permite visualizar claramente as alterações cerebrais associadas à síndrome”, destaca a médica.
Possibilidades de visão funcional
Apesar das limitações, muitas crianças com hipoplasia parcial do nervo óptico conseguem desenvolver algum grau de visão funcional, principalmente quando o diagnóstico é feito precocemente e são oferecidos estímulos visuais adequados. “Com diagnóstico precoce e estímulo adequado, algumas crianças desenvolvem visão funcional, suficiente para atividades cotidianas e vida escolar com adaptações”, reforça Dra. Daniele.
A alteração visual costuma ser estável, sem tendência à progressão. No entanto, a ausência de estímulo visual pode limitar o desenvolvimento. Além disso, disfunções hormonais causadas pela alteração na hipófise podem afetar o desenvolvimento global da criança, inclusive sua cognição e coordenação visual.
Exames e acompanhamento oftalmológico
O acompanhamento contínuo é fundamental. Nos primeiros anos, os exames devem ser realizados a cada três a seis meses; após estabilização, podem ser anuais. Os principais exames são OCT, fundo de olho, avaliação da acuidade visual funcional e potenciais evocados visuais. “O intervalo ideal depende do desenvolvimento da criança e da presença de alterações associadas”, afirma a especialista. A OCT, por exemplo, permite monitorar alterações no nervo óptico, especialmente a espessura das fibras nervosas e a camada de células ganglionares.
Intervenções para preservar e estimular a visão
Embora não exista cura, há tratamentos que visam preservar e estimular o potencial visual existente. Isso inclui óculos para correção refrativa, estímulos visuais precoces e tratamento de ambliopia, quando presente. “A estimulação visual precoce é essencial. Estimula o cérebro a usar melhor o potencial visual existente. Deve ser iniciada o quanto antes, com apoio de profissionais especializados”, salienta Dra. Daniele.
Além do oftalmologista, outros profissionais devem integrar a equipe multidisciplinar: endocrinologista pediátrico, neuropediatra, terapeuta ocupacional, pedagogo especializado e psicólogo infantil, quando necessário.
Qualidade de vida e adaptações
O prognóstico visual varia conforme a gravidade da hipoplasia, mas muitos pacientes alcançam independência em algumas atividades com apoio e adaptações. “Com acompanhamento adequado, em alguns casos é possível desenvolver visão funcional”, enfatiza a médica. Medidas como iluminação adequada, uso de contrastes visuais, organização do ambiente e materiais com letras ampliadas podem fazer grande diferença na autonomia da criança.
Recursos tecnológicos também são aliados importantes: tablets com aplicativos íveis, lupas eletrônicas e softwares de leitura podem contribuir significativamente para o desenvolvimento escolar e a qualidade de vida.