Hoje (20), o Rio Grande do Sul celebra os 150 anos da imigração italiana no estado. A data marca a chegada dos primeiros imigrantes italianos no ano de 1875, em Nova Milano, atual município de Farroupilha. Em alusão à data, o Jornal Bom Dia resgata, nestas páginas, a trajetória da imigração em Erechim e destaca o trabalho de entidades que mantêm viva essa herança cultural: a Associação de Familiares de Italianos do Norte do Rio Grande do Sul – La Piave Fainors, o Grupo Avanti, o Grupo do Gillé e o Coral Stella Alpina.
A imigração italiana em Erechim
O coordenador do Arquivo Histórico, Henrique Trizotto, explica que a imigração italiana ocorreu em busca de melhores condições de vida, impulsionada por perseguições políticas, étnicas ou religiosas, ou pela pobreza no país de origem. Em 1850, a Lei de Terras foi promulgada no período imperial, e o governo brasileiro incentivou a vinda de estrangeiros. O movimento migratório foi intensificado entre 1880 e 1914, sendo interrompido pela Primeira Guerra Mundial e retomado na década de 1920.
Os imigrantes italianos enfrentaram viagens longas e insalubres, que duravam entre trinta e sessenta dias desde a partida da Itália até a chegada ao Brasil, principalmente pelos portos de Santos e Rio de Janeiro. Após os trâmites burocráticos, a maioria seguia de trem até o local onde estabeleceria sua residência.
Dados do Histórico de Erechim, escrito pelo professor e historiador Ernesto Cassol, indicam que, em 1910, após a criação da Colônia Erechim, ocorreram a chegada dos primeiros grupos imigrantes à sede da Colônia, atual município de Getúlio Vargas. Após esse momento, eles se espalharam pelo território. Em 1975, cerca de 1.827 italianos estavam estabelecidos na Colônia.
A partir de 1911, várias famílias aram a se estabelecer em Paiol Grande (Erechim). Entre elas: Antenor Pedrollo, Paulo e Elisa Vacchi, Eugênio Isoton, Pedro Longo, José Bonaldo, Bortolo Balvedi, João Massignan, Júlio Trombini, João Carlon e Attilio Assoni.
Associação de Familiares de Italianos do Norte do Rio Grande do Sul – La Piave Fainors
Para o presidente da Associação de Familiares de Italianos do Norte do Rio Grande do Sul – La Piave Fainors, Marcos Aurélio Dalla Rosa, os 150 anos da imigração italiana representam um convite para reviver a história e a cultura, valorizando toda a trajetória até o momento. “É uma oportunidade para relembrar o ado e refletir sobre o desprendimento necessário para sair de casa e seguir em frente, sem voltar atrás”, reflete Marcos.
Marcos destaca que a entidade realiza trabalho voluntário com cursos de língua italiana, aulas de conversação, cursos de gastronomia e desenvolvimento de projetos culturais. Atualmente, a Fainors está empenhada em projetos de Gemellaggio (Cidades-Irmãs), na elaboração do Livro Comemorativo dos 30 anos da entidade e busca viabilizar a construção da sede e do Museu da Cultura Italiana em Erechim.
Coral Stella Alpina
Integrante do Coral Stella Alpina, Olga Martinovski destaca a importância de manter vivas as tradições herdadas dos imigrantes italianos, como o canto coral, o filó e as aulas básicas de italiano. O grupo leva essas manifestações culturais a outras comunidades, resgatando costumes e histórias.
Além disso, na família de Olga, as festas e celebrações também fazem parte desse compromisso com a memória. "Estamos levando o filó para outros lugares, compartilhando com as pessoas os costumes de antigamente e mostrando o que foi a imigração italiana. Os imigrantes aram por muitas dificuldades, e eles nos deixaram um legado construído com muito esforço”, destaca Olga.
Grupo Avanti
Com 35 anos de história, o Grupo Avanti trabalha com pessoas de todas as idades, desde crianças até adultos, promovendo atividades que envolvem canto, dança folclórica, idioma, artes cênicas e a história da Itália.
Em entrevista ao Jornal Bom Dia, Charles Oldoni e Margarete Oldoni destacam que as atividades são gratuitas, reunindo participantes de todos os bairros, classes sociais e etnias, promovendo o fomento cultural, a integração e o desenvolvimento pessoal. “A cultura é um caminho para o autoconhecimento, a autoestima e a formação de cidadãos comprometidos, com postura e disciplina”, comentam Margarete Oldoni. Além de atuar em Erechim, o Grupo Avanti estende suas ações para municípios vizinhos como Aratiba, São Valentim, Mariano Moro e Severiano de Almeida.
Para Charles e Margarete, o trabalho de preservação e celebração da cultura italiana é um legado para as futuras gerações, desenvolvendo o pertencimento à própria origem e resgatando as histórias dos imigrantes que, desde 1910, construíram famílias e comunidades na região de Erechim.
Charles evidencia que um dos principais objetivos atuais é a construção de uma sede para o Grupo Avanti. A partir dela, será possível ter um espaço para crianças, jovens e adultos criarem identificação, conviverem em grupo e vivenciarem a cultura italiana, seja pela gastronomia, música, canto, dança ou pronúncia do idioma.
“Queremos que as futuras gerações tenham conhecimento das origens, levando isso para sua família, sabendo de onde vêm e tendo orgulho de ser filho, neto, bisneto de um imigrante italiano que trabalhou para construir estradas, avenidas e fábricas. Construir algo assim não tem preço”, evidencia Margarete.
Grupo do Gillè
Com a proximidade do centenário do Grupo do Gillè, que resgata e divulga as tradições e costumes da etnia italiana, as comemorações dos 150 anos da imigração italiana no Brasil, especialmente no Rio Grande do Sul, destacam o legado deixado, seja nos valores, nas memórias ou no trabalho árduo para abrir caminhos para as futuras gerações.
Com 97 anos de história, o canto coral é a principal expressão do grupo, que interpreta com orgulho um repertório italiano que vai do Renascimento ao século XX, preservando histórias e homenagens. A gastronomia típica também sempre fez parte da trajetória, com eventos como a Festa da Polenta, a Festa da Porchetta e almoços italianos.
“Nossos estatutos regem o despertar e desenvolver o amor ao canto e ao folclore italianos, divulgar a cultura italiana por meio de eventos na cidade, na região e no Estado, procurando deixar um legado histórico de canto, vivência em grupo e gastronomia típica italiana, que trazem para os dias atuais o que os imigrantes italianos trouxeram consigo, além de esperança, fé e prosperidade para a nossa pátria”, destaca o Grupo do Gillè.