Cinco minutos é pouco ou é muito tempo? Acredito que é algo relativo. Muitas vezes pensamos ser pouco, mas outras, vale uma vida de arrependimento.
Quando olho para trás, lembro de poucos momentos da minha infância, especialmente dos cinco anos. Um que permanece claro na memória aconteceu na pré-escola (nem sei se ainda chamam assim). Era o tradicional jogo de "morto-vivo". No fim, restamos eu e um colega. Enquanto todos torciam por ele, uma menina torcia por mim. Eu ganhei. A vitória me deixou feliz, mas hoje sei que o mais importante não foi o prêmio. O que realmente ficou foi o gesto dela, de torcer por mim, contrariando todo o resto.
Estudamos juntos por mais um ou dois anos, e desde então, nunca mais havíamos nos encontrado, até que, anos depois, já na faculdade, nos esbarramos por acaso. Poucas palavras foram trocadas, o reencontro foi breve. Foi só depois de mais alguns anos que fiquei sabendo da luta dela contra um câncer agressivo. Decidi visitá-la. Encontrei-a em casa, frágil, mas ainda com esperanças. Fiquei com o coração leve, apesar de tudo. Meses depois, recebi uma ligação. Ela estava internada, já sem muitas chances, em um hospital em Porto Alegre. Fui até lá, mas, ao chegar na UTI, a atmosfera era tão densa que hesitei. Fiquei do lado de fora, observando. Vi sua avó, sorrindo e conversando com o médico. Isso me deu algum alívio. Quando a recepcionista chegou, pedi para ver a paciente, mas a resposta foi um soco no estômago: “Ela veio à óbito há 5 minutos.”
Cinco minutos. Eu hesitei e perdi a oportunidade de me despedir. Entendo que não mudaria o curso das coisas, mas ao menos eu teria mostrado a ela que eu estava ali, na torcida por ela, contrariando todo o resto, como ela fez naquele dia, lá em 1993.
Recentemente, vivi outra experiência marcada pelo tempo. Minha esposa estava na reta final da gestação, e um dia acordou sentindo que um dos bebês não estava se mexendo tanto quanto de costume. Em momentos de angústia, ela percebeu que, às vezes, o bebê mexia, mas de forma fraca. Uma prima médica, mesmo não sendo da área, sugeriu que fossemos ao hospital para tirar a dúvida. Era noite, já perto das 21h, e minha esposa entrou sozinha, pois, por conta da pandemia, eu, mesmo sendo esposo e pai, não podia ir junto. Por volta das 21h30, me mandou uma mensagem dizendo: "Acredita que ele mexeu? Bem suave, mas mais forte do que o dia todo. Tá me trolando esse guri". Mal sabíamos que era ele se despedindo. Então, me senti aliviado, mas o tempo ou (não sei quanto) e, por algum motivo, não recebia mais mensagens. Quando finalmente fui chamado, uma sensação de pânico tomou conta de mim. Corri pelos corredores do hospital, sem saber o que esperar. Quando cheguei, vi o desespero estampado no rosto dela, e a angústia veio.
Será que cinco minutos teriam mudado alguma coisa? Não sei. As pessoas dizem para não me culpar, para não ficar me martirizando. Mas, em certos dias, os "e se" se tornam um peso difícil de carregar. A mente insiste em questionar o que poderia ter sido diferente. Mas, filho o papai esteve lá o tempo todo rezando e pedindo por você, torcendo pelo seu melhor e querendo você nos braços, contrariando todo o resto como você fez o tempo todo lutando pela sua vida.
E para você, quanto tempo tem 5 minutos?