Nas margens da BR-153, no município de Três Arroios, localiza-se a sede da Ecoterra – Associação Regional de Cooperação e Agroecologia. O que começou como um esforço para melhorar técnicas agrícolas e conservar o solo evoluiu para um sistema robusto de produção e distribuição de alimentos orgânicos.

Entre altos e baixos, a consolidação da Associação

Enfrentando desafios como a chegada de integradoras e as oscilações de mercado, encontrou na cooperação e na agroecologia um caminho para a sustentabilidade e estabilidade econômica. A partir de 1997, expandiram suas práticas pela região do Alto Uruguai e o Fundo, consolidando um sistema que não só produzia alimentos, mas garantia um preço justo aos produtores, evitando as flutuações do mercado convencional.

"Em 2006, enfrentamos nossa primeira 'falência', por excesso de produção", relembra o colaborador Gilmar Ostrovski. “Esse ponto de virada levou a uma reestruturação estratégica, focada em conectar a produção excedente aos grandes centros urbanos”. Iniciativas em Curitiba, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e, posteriormente, São Paulo abriram novos mercados e fizeram a Ecoterra como uma referência em alimentos orgânicos.

A partir de 2008, com a obrigatoriedade de alimentos orgânicos na alimentação escolar, a demanda aumentou. "Hoje, temos uma rede que abastece não apenas feiras e restaurantes, mas também escolas em várias cidades”, conta Gilmar.

O modelo da Ecoterra não se limita à produção: envolve todo o ciclo, desde o planejamento agrícola para décadas à frente até a logística eficiente de distribuição. "Nosso sistema garante um preço mínimo justo aos produtores desde o planejamento da safra", explica Gilmar. "Isso proporciona estabilidade e incentiva o crescimento sustentável."

Produção de cítricos

Os agricultores Gilmar e Maristela Freiberger, da Linha Lageado das Antas, interior de Três Arroios, se dedicam ao plantio de laranjas e bergamotas. A família iniciou a atividade com quatro hectares, no presente momento subiu para sete, que resultam aproximadamente 30 toneladas de cítricos anuais.

O cultivo dos pomares na propriedade da família é baseado em técnicas agroecológicas, ou seja, sem o uso de defensivos agrícolas, garantindo uma produção de cítricos orgânicos e de qualidade. E para melhor escoar a produção, eles possuem uma parceria com a Ecoterra, há cerca de sete anos, com o objetivo de facilitar e viabilizar a comercialização da produção.

Colaboradores e culturas diversas

Em uma área próxima à sede da Ecoterra, há também o plantio de batata doce, feijão preto, arroz orgânico, alho, mandioca, entre outros, feito por colaboradores como Ederson Wuaden. “Sou produtor e coordeno uma equipe que trabalha com preparados biológicos. Estamos introduzindo esses métodos na nossa produção. Ainda utilizamos ferramentas tradicionais, como a enxada, que muitos já abandonaram. Estamos explorando a ideia de implementar coberturas de solo para reduzir a nossa dependência de mão de obra”, explica ele.

O colaborador ressalta que um dos desafios presentes é a escassez de mão de obra para o aumento de culturas. “Na agricultura atual, enfrentamos a falta de pessoas que se dediquem ao trabalho rural, então estamos buscando alternativas de produção mais eficientes nesse sentido”. Além disso, as intempéries climáticas também influenciam no resultado da colheita.

“Este ano, enfrentamos condições climáticas atípicas, mas conseguimos colher aproximadamente 150 sacos de feijão preto orgânico e 16 toneladas de arroz, um pouco abaixo das nossas expectativas, mas considerando as circunstâncias climáticas, foi uma colheita satisfatória. Atualmente, estamos no processo de colheita da batata doce, que também apresentou resultados abaixo do esperado, mas esperamos uma safra razoável. Também estamos iniciando o trabalho com a cebola e implantando uma área de alho gigante, conhecido também como alho nativo e expandindo a nossa produção para incluir beterraba orgânica”, acrescenta Ederson.

Os frutos do trabalho

Atualmente, a Ecoterra não é apenas uma associação local, mas uma força nacional. Em parceria com outros estados, formaram o Circuito Sul de Alimentos Ecológicos, conectando cerca de 1.800 famílias produtoras e movimentando mais de 160 toneladas de alimentos semanalmente. "Nosso objetivo é criar uma estrutura nacional para circulação de orgânicos", revela Gilmar Ostrovski.

Com mais de 106 pontos de venda semanais em grandes centros urbanos, a Ecoterra não apenas sobreviveu às mudanças do mercado, mas liderou uma revolução na agricultura familiar. "É um sonho realizado ver nossos produtos alimentando a população de forma sustentável", conclui ele.

A história da Ecoterra é um testemunho do poder da cooperação e da visão de longo prazo na agricultura. Enquanto olham para o futuro, continuam a expandir e fortalecer seu modelo, garantindo não apenas alimentos saudáveis, mas também um futuro próspero para as próximas gerações de agricultores.

Os benefícios para o colono e o motorista

Para os colonos ou agricultores familiares, participar de associações de produtos orgânicos significa ar mercados mais valorizados e sustentáveis, além de receber e técnico e educacional para melhorar suas práticas de cultivo.

Em relação aos motoristas, essa dinâmica também desempenha um papel significativo ao garantir que os alimentos orgânicos sejam transportados e distribuídos de maneira eficiente e segura, conectando os colonos aos mercados e consumidores finais de forma responsável e sustentável. Em meio às celebrações do Dia do Colono e Motorista, destacamos não apenas a importância vital desses profissionais, mas também a essencialidade de seu trabalho, bem como iniciativas que valorizam esses trabalhadores como a associação da Ecoterra.