“Muitas pessoas entrarão e sairão de nossas vidas, mas apenas os verdadeiros amigos deixarão pegadas em nossos corações”.
A frase da ex-primeira-dama dos EUA entre 1933 e 1945, Eleanor Roosevelt (1884 – 1962), tem me acompanhado há algum tempo, assim como a saudade que sinto de uma das pessoas mais corretas, sensíveis e empreendedoras com quem já tive a oportunidade de conviver, o inestimável amigo e mestre, Nilso Zaffari, médico falecido em 18 de dezembro do ano ado.
Desde sua partida sinto um vazio imenso, somado aos retrocessos de um mundo que segue cada vez mais disforme por razões diversas.
Há dois anos a humanidade é vítima de uma pandemia que veio de repente e que teima em não ir embora. Também ora se inicia uma guerra que ninguém sabe o fim, embora já sintamos seus nefastos efeitos em nosso cotidiano.
Ao mesmo tempo em que se abria em um novo horizonte esperançoso com o arrefecimento do vírus chinês, o destino voltou a conspirar para que a vida comum continue ainda mais complicada. Isso sem falar na polarização política interna do país, que só se agrava e complica o futuro.
Nestes e em outros momentos difíceis lembro do amigo experiente e destemido que nunca falhou em seus conselhos e orientações.
Afinal, mais do que colegas de Especialidade Médica, sempre vi no Nilso um líder capaz de alinhar razão com emoção, inteligência com resultado, sinceridade com conciliação pessoal, algo que procuro imitar, porém, sem o mesmo sucesso e efeito.
O respeitado líder foi o responsável por abrir várias portas, as quais, na minha caminhada, pude adentrar sem bater, obtendo relativo sucesso.
Deu-se assim com o primeiro convite, quando me chamou para trabalhar na pediatria do Hospital de Caridade em 1983.
Mais tarde, conforme a amizade e iração cresciam, nos unimos também fora da medicina. Foram quatro décadas de parceria intensa que irá se perpetuar na eternidade.
Quando assumiu a presidência da Unimed Erechim em 1995, me convocou para ser superintendente da cooperativa fundada por ele e outros inigualáveis colegas em 1971. Aceitei o desafio, e creio, juntos fizemos um belo trabalho. Foram nove anos intensos que mudaram a minha maneira de enxergar o cooperativismo, a governança e as pessoas. Neste período fundamos a Unicred Erechim, cooperativa que presidiu ao tempo que eu também ocupava a direção istrativa.
Após três mandatos consecutivos, mais maduro, graças aos ensinamentos professorais, me senti apto a sucedê-lo na Unimed Erechim, e para acompanhá-lo na empreitada na Federação Unimed/RS – onde foi vice-presidente durante repetidas e produtivas gestões.
Na cooperativa local, permaneci na presidência por 15 anos; na Federação, seguindo seus os, estou até hoje, ocupando a diretoria de Sustentabilidade.
Qualquer manifestação minha a respeito do Nilso, enxeria paginas e paginas com capítulos diversos. Não teria como esquecer tudo que amos juntos no convívio fraternal e na cumplicidade positiva. Episódios incríveis alimentaram nossa inseparável convivência o decorrer das nossas vidas, incluindo o ambiente caseiro de nossas famílias. Mas essas histórias ficam para outros dias.
Encaminhando o final do escrito de hoje lembro que o Dr. Nilso Zaffari foi um dos maiores e melhores médicos da história centenária de nossa cidade.
Na década de 1960 trouxe a pediatria como especialidade médica para Erechim. Vinha de uma formação sólida na Faculdade de Medicina de Santa Maria e residência médica em São Paulo (fato raro naquele tempo).
Na época assumiu bravamente os afazeres e responsabilidades nos cuidados das crianças enfermas de todas as famílias da Região e viu-se muito bem.
Recebeu os colegas de especialidade de forma generosa e de braços abertos. Liderou-nos com maturidade, e nos manteve unidos oportunizando o crescimento profissional e moral de cada um e da especialidade.
Sua atuação no associativismo médico foi igualmente significativa, profícua e generosa. Fundou a Associação Médica, primeiro como uma seccional da AMRIGS e depois como entidade Regional. Participou intensamente da vida política da cidade e entre outros feitos à comunidade fundou e viabilizou o Banco de Sangue local.
Amou profundamente sua família, razão maior de sua existência. Cuidou de seus pais e sogros, acompanhou seus irmãos. Esposa, filhos e netos foram a motivação principal de seu viver.
Enfim, o amigo Nilso teve uma vida profícua que deve ser vista como exemplo a todos os médicos e pessoas de bem.
Faço hoje esta homenagem singela, porém de profunda gratidão, ao querido amigo que completaria 80 anos no dia 22/3/2022, se vivo estivesse. O grande homem se foi, mas sua obra magnífica ficará para sempre. Bem como suas marcantes pegadas em nossos corações.
Médico,
Membro da Academia Erechinense de Letras,
Vice-presidente da A.A. da Biblioteca Pública do RS.