Nesses dias de começo de ano, percebi que a vida tem me agraciado com duas coisas importantes: experiência e oportunidades. Eu gostaria muito de dizer sabedoria, mas seria presunçoso demais. De fato me sinto mais sábio, mas ainda é muito cedo para me sentir como tal, eis porque o termo “experiência” seja mais adequado. Já as oportunidades, elas aparecem quando a gente está desperto, quando amos a observar o funcionamento de nossa vida.
Comensalismo de incipiente
Recentemente, na confraternização de final de ano deste jornal, tive a oportunidade e a felicidade de conhecer o jovem ancião Neivo Zago. Ancião pela experiência, jovem pela sagacidade. E como foi bom conhecer um verdadeiro professor da língua portuguesa. Sempre gostei de escrever, mas sempre fui desleixado com os estudos da língua mãe. Uma incoerência, reconheço, converido hoje em um prazeroso desafio. É aí que eu me refiro quanto ao termo “oportunidade”. Agora tenho um colega, cuja expertise, nos habilita chamar de sábio e eu, com juízo e sorte, desfrutarei de sua “experiência”.
Oportunidades de um novo ano
A mudança de um ano para outro sempre nos proporciona “oportunidades” de a gente se tornar um sujeito melhor. É tempo de reencontrar amigos e parentes e o convívio com os parentes abre a temporada para que o espírito natalino permaneça ou suma de vez. A opção é sempre nossa. Em poucos dias, nos vemos diante de momentos importantes. Com os amigos, exercemos a nossa mais bela parcela de amor, mas é com a parentela quando temos oportunidade de evoluir. Em geral, as reuniões familiares são propícias às diferenças, às divergências e ao aprendizado cristão. Afinal, é facil ser cristão com os amigos, mas e com os parentes?
O que é perdoar?
Nesse Natal, tive a intuição e a inspiração de desmontar e remontar a palavra perdão. Me perdoem os mestres, porque eu amo etimologia. Em minha juventude, fui um estudante relapso e a etmologia salvou minha inteligência. E o termo “perdoar” nasce lindo, desde sua gênese, no latim. Primeiro, pelo prefixo “per”. Significa através de, acima de ou mesmo muito. Depois, pelo radical “doar”: capacidade de transferir, a quem não tem, aquilo que “acreditamos” ter. Eis a razão da beleza e a profundidade da palavra perdoar. Só consegue perdoar quem tem a capacidade de perceber a deficiência do outro e transferir, com amorosidade, num exercício de paciência e tolerância, a alquimia da ligação, do ofendido para o ofensor. Logo, se você tem dificuldade em perdoar, é porque você ainda se encontra no rol dos ofensores, não adquiriu a capacidade de doar, de oferecer a outra face. Chego a pensar que se não somos capazes de perdoar é porque não temos nada para dar, para contribuir. É como estar numa fila e quando perdemos a oportunidade, voltamos para o seu final, não avançamos. A etimologia é linda! Temos muito a aprender.
As festas de fim de ano
Talvez o perdão seja a razão das festas de fim de ano. A gente encontra os amigos, recarrega os reservatórios da amorosidade e, em seguida, segue ao encontro da família. Geralmente é assim. Os familiares não são as pessoas de que merecemos, são as pessoas de que precisamos. Nem sempre há o sublime alinhamento entre o mérito e o necessário. Feliz é a pessoa capaz deperdoar. Triste é quem precisa ser perdoado. Não fosse assim, de que adiantaria venerarmos o exemplo de Cristo. Que comemoração vazia seria o Natal, sob este prisma. Então, se você tem contendas com sua parentela, é porque você “precisa” de sua família, por mais que acredite não mereçer tais contendas. A escolha do tamanho do seu Natal, depende só da sua percepção. Ele significa paz e o tamanho da “sua paz” dependerá exclusivamente do seu comportamento, de suas provas. Perdoe, avance na sua “fila” e seu ano há de ser maravilhoso. Como em Atos 7:3: “Saia da tua terra e do meio dos seus parentes e vá para a terra que eu lhe mostrarei”.