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O Sapateiro de Bruxelas: Galinhas, Economia e Felicidade 1uo2v

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Alcides Mandelli Stumpf
Por Alcides Mandelli Stumpf
Foto Rodrigo Finardi

Coisas curiosas acontecem todos os dias por aqui. Assim fala o Sapateiro de Bruxelas logo no início de sua live, que hoje versará sobre economia. Mais especificamente, economia doméstica, segundo ele próprio anuncia.

Pois nada mais doméstico e trivial que a popular galinha, conhecida nas tabelas de preços dos armazéns de bairro e até no mercado internacional, como Frango Inteiro. Prontamente o mestre informa - de acordo com a sua incorruptível honestidade - que nada entende de Economia Popular ou mesmo de aves, sejam essas domésticas, silvícolas ou canoras.

Sua formação em ciências exatas, ou mais especificamente em matemática econômica, limita-se a parcas lembranças do ensino fundamental na Sint-Jan Berchmanscollege, na Rue des Ursulines 4, em Bruxelas. Desses doces anos de aprendizagem e alguns namoricos restou-lhe tão somente a utilíssima regra de três, com a qual vem defendendo e istrando bravamente o seu modesto patrimônio pela vida afora.

Claramente não se queixa de tão sublime e singelo saber, embora revele iração insólita por Tales de Mileto e o Teorema do Círculo, Arquimedes e sua irresistível alavanca, e Pitágoras, do qual jamais esquecerá a incrível fórmula do triangulo retângulo: o comprimento da soma do quadrado dos catetos e igual ao quadrado do comprimento da hipotenusa. Embora não saiba qual a serventia dessa magnífica memória, a guarda com profundo respeito e em alta relevância.

Quanto as aves - como de resto, outras coisas importantes da vida - sabe menos ainda. Porém tem convicção que elas são geralmente bípedes, emplumadas, e metem o bico onde não são chamadas. O que - para o belga - as assemelham muito a certos humanos, especialmente a alguns granizes que recalcitram nas altas rodas e mesas de cafezinho da localidade.

Continua a prédica eletrônica a dizer que de todas as criaturas estudadas pela ornitologia - portanto vertebradas, ovíparas, de copo coberto por penas, membros anteriores modificados em asas, além de possuidoras de bico córneo e desdentado - a que lhe desperta maior afeto e simpatia é justamente a querida e afável galinha.  Quase comovido lembra que esta, quando desdobrada em anos e adentrada na idade, origina a penosa gorda ou galo velho, que, segundo o dito popular, mesmo na velhice, rendem bons e saborosos caldos ou risotos épicos.

Nesse momento da live, um jovem gaiato mais apressado e incontido, ansioso pelo saber, respeitosamente solicita que o sábio estabeleça logo o nexo causal entre Economia Popular e galinha ou vice-versa, pois a conferencia lhe parece deveras confusa.

Invariavelmente educado e amável, o bruxelense agradece o varonil aparte e evolui imediatamente às aristotélicas conclusões.

Pois saibam os senhores e senhoras que a galinha ou frango inteiro além de serem aves domésticas que acompanham a história da humanidade, já foram também sinônimos de prosperidade econômica em nosso país. Inclusive ajudaram a eleger e reeleger presidentes e suas respectivas camarilhas.

Explico melhor: no início do chamado Plano Real, no não tão longínquo ano de 1994, e por bom tempo a seguir, um quilo de frango valia um real, que equivalia a um dólar americano. As paridades de cotação entre tais ativos enxiam os egos dos políticos, os bolsos dos turistas da classe média e também os pratos das classes baixas.

Tal proporção de valores se perseverou por anos e serviu de garantia suplementar a velhos embusteiros de diversas plumagens, cores e bicos.

Porém – alerta o Sapateiro -, atualmente, ados vinte e sete anos da nova moeda, se visitarmos as gôndolas dos supermercados, veremos que o quilo do frango equivale a onze Reais brasileiros ou dois Dólares americanos. Sem falar das partes nobres da ave, como as adoráveis coxas ou sobrecoxas, ou apetitosos e turbinados peitos.

Onze é o valor do bicho completo, com cabeça, asas, sambiqueira, e demais miúdos intragáveis.  Portanto, o preço do franco, atualmente, tornou-se um verdadeiro escárnio avícola-monetário- alimentar que atinge toda população.

Nesse ponto da prédica que o bruxelense insere a antiquíssima, simples e útil regra de três, para chegar as seguintes conclusões:

No mesmo período que a inflação do Real foi de quinhentos e cinquenta por cento, a inflação da galinha foi de mil e cem por cento. Perante a moeda padrão mundial, dobrou de preço e chegou a cem por cento de aumento em dólar americano, o que compõe um cenário astronômico, fantástico e péssimo para quem usa tal proteína animal para se alimentar.

Como é simplesmente um coureiro que nada entende de nada - como dito acima – logo chega à singela alternativa: ou o frango está supervalorizado na praça, ou definitivamente o dinheiro proveniente do nosso suado labor diário está valendo muito pouco, menos a cada dia.

Ou ambas as coisas - o que é mais provável.

Mas o Sapateiro de Bruxelas, com suas curvas de retóricas sempre surpreendentes e um tanto (ir) racionais, ao encaminhar o final de sua fala semanal, deixa uma última e exaltada recomendação a turma de cafezinho, e brada à câmara do seu note book:

Meus amigos e minhas amigas, mediante tal realidade tão insólita quanto robusta, não criemos expectativas com políticos ou economistas! Criemos galinhas!

Além de valorizarem muito, não nos decepcionam, fazem menos sujeira e servem de despertador! De quebra, rendem ovos, que constituem um excelente alimento para toda família.

E ao finalizar a live o Sapateiro de Bruxelas lembra mais uma rara e derradeira utilidade galinácea: em último caso, elas ainda podem servir de macumba para azarar a vida de algum desses políticos pilantras que vivem nos sacaneando, pincipalmente em ano de eleição presidencial.

Sim, criemos galinhas e sejamos felizes para sempre!

 

Médico,

Membro da Academia Erechinense de Letras,

Vice-presidente da A.A. da Biblioteca Pública do RS.

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