Vivemos tempos difíceis, acho que pelo menos nisso, todos concordam.
O avanço vertical e implacável da pandemia, que completou um ano há poucos dias, nos afeta de forma singular e coletiva, atingindo diferentes aspectos da nossa existência.
Lembro de início o conceito de saúde propagado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), como o estado mais completo de bem-estar físico, mental e social, portanto, não apenas a ausência de enfermidade. No momento, a realidade nos coloca sob grave ameaça, e dela decorrem múltiplas consequências, que abalam, entre outras, a estrutura econômica e as próprias relações humanas.
Aqui, porém, aproveito para reenfatizar que não é apenas a ausência de enfermidades que nos torna saudáveis, mas, sim a harmonia do conjunto corpo, mente, espírito além de nossas experiências com o próximo e com o próprio meio ambiente. Há, portanto, necessidade de equilíbrio entre esses elementos para que a vida, dentro das possibilidades e variáveis – muitas destas incontroláveis –, flua da melhor maneira possível.
Aí naturalmente surgem questionamentos inevitáveis tais como: onde, quando e de que modo encontrar a necessária harmonia vital diante da gravidade do cenário atual, das dores e medos que só o “eu interior” sabe decodificar e sentir?
Posto de forma plana e simples esses questionamentos, ora ouso compartilhar algumas observações, com a pretensão, talvez, de tornar minha alma mais jovem e útil, afastando-a da amargura inexorável do ar dos anos e da decadência física inerente à minha idade.
Faço, aliás, sob a ótica da longa experiência e rescaldo de quatro décadas como médico atuante e dirigente de uma cooperativa que tem por missão fundamental cuidar das pessoas.
Portanto, se assim aceito pelos leitores, de pronto me parece indispensável procurarmos estabelecer padrões e rotinas, neste momento específico, que visem contemplar família, trabalho e cuidados com o bem-estar individual. Como ensinava o gênio renascentista fiorentino Leonardo Da Vinci (1452 - 1519), uma vida bem preenchida torna-se longa.
Em relação à família, é primordial dedicarmos o maior e melhor tempo possível àqueles a quem amamos; valorizar momentos íntimos e saber ouvir com respeito os sentimentos dos que convivem conosco na hora de repor as energias; além de estar presente, de corpo e alma no aconchego do lar maior tempo possível. A proximidade doméstica pode transparecer trivial, mas, acreditem, é mágica e confortadora. Ao devolvermos o doce sorriso do neto, o afago dos filhos ou o carinho da companheira propiciam-se verdadeiros milagres cotidianos.
Sobre o trabalho, embora os horários de labuta pareçam estar aumentando durante a crise – especialmente para muitos que estão com as atividades em Home Office – há que ter diferenciada atenção. Comprovadamente, o estresse compromete a produtividade geral e faz o corpo sofrer. E mais: se não houver cuidado, seremos presas fáceis e vítimas da sobrecarga de informações, falta de foco, distração e esgotamento mental.
Uma vez que vai longe a possibilidade de desativação da cultura “sempre ativa”, é importante entender o quão importante é o equilíbrio entre vida particular e profissional, e quão benéfico é esse equilíbrio para o indivíduo e a organização para a qual trabalha.
É responsabilidade intransferível de cada um e cada qual, definir, sempre que possível, limites viáveis e variáveis, compatíveis com o bem-estar pessoal e interpessoal. É importante visualizar como gostaríamos de ar o dia e de que modo seríamos mais produtivos e felizes. Segundo o escritor norte-americano Stephen Covey (1932 - 2012), autor de best-sellers istrativos: “A chave não é priorizar o que está em sua programação, mas programar suas prioridades”.
No tocante ao cuidado do bem-estar, a miríade de possibilidades é extensa, felizmente. Aqui, podemos elencar a prática de exercícios regulares e alimentação saudável, que previnem não apenas doenças cardíacas, AVCs e outros males cada vez mais comuns, como também aliviam o ciclo de pressão diário, eis que a atividade física e boa comida ajudam a controlar os níveis de estresse, além de reduzir a ansiedade.
Aspectos relacionados à espiritualidade, que vai além da religião, também merecem atenção especial, bem como a seleção responsável dos meios de comunicação pelos quais procuramos nos informar; desligar a TV na hora do “jornal funeral” a respeito das atualizações da Covid-19, e ater-se a um bom livro ou mesmo assistir a sua série preferida, é uma alternativa promissora.
Enfim, seguir em frente não é uma opção, mas uma necessidade, uma obrigação essencial. No entanto, é preciso escolher como vamos enfrentar – e superar – o vírus e seus imensuráveis estragos.
Eu, particularmente, defendo a ciência, o equilíbrio mental e a subsistência física e moral. Façamos prevalecer o bom senso, a solidariedade, as ações preventivas e as atividades econômicas. Afinal, o único e verdadeiro sentido da vida é evoluir através do amor. E para que possamos amar, é preciso que os outros vivam também.
Ao encerrar, deixo uma mensagem de Jesus Cristo em Mateus 11:28-30: “Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, Eu vos aliviarei”.
Médico e Membro da Academia Erechinense de Letras.