A história dos 100 anos começa mais de 100 anos antes
A história de Erechim é comumente ligada aos primórdios da estrada de ferro, inaugurada antes mesmo do município em 1910, e à chegada dos primeiros imigrantes que povoaram o território regional, originando a chamada “colonização oficial”. Algumas fontes chegam a tratar de um ado um pouco mais distante, a exemplo do professor e historiador Ernesto Cassol, que em seu livro “Histórico de Erechim”, de 1979, aborda o povoamento destas terras, mostrando que foi anterior à chegada dos estrangeiros.
Segundo ele, no fim do século XIX, a região era habitada por índios kaingangs, caboclos, bandeirantes paulistas e até mesmo por fugitivos das revoluções Farroupilha e Federalista, ocorridas nos anos de 1835 e 1893, respectivamente. “Foram, portanto, os primeiros moradores de nossas terras, das matas de Erechim, os descendentes dos bandeirantes que, vindos em busca de prata, por aqui ficavam, cruzando a raça com os kaingangs. Aos caboclos birivas se foram juntando, com o ados os anos, os foragidos da justiça”, mostra trecho da obra.
Outros se arriscam a voltar ainda mais no ado, a exemplo de Antônio Ducatti Neto. Ele defende que ao contrário do que muitos pensam, não foram os paulistas os primeiros civilizados que colocaram os pés no Rio Grande do Sul e, especificamente, na região onde hoje encontra-se a “Capital da Amizade”. Em sua obra “O grande Erechim e sua história”, ele retoma os ataques liderados por Antônio Raposo Tavares às missões jesuítas em 1629, o que resultou na transmigração dos discípulos da Companhia de Jesus. Neste sentido, ele cita que foram os jesuítas os primeiros civilizados a adentrar no território gaúcho, depois de – junto a indígenas – terem descido o rio Paraná a pé e pelo rio Uruguai.
O autor explica que estes chegaram à margem do Rio Jacuí, onde estabelecerem as reduções que logo em seguida, no ano de 1933, foram novamente atacadas por bandeirantes. Os seguidos ataques, conforme o autor, motivaram os jesuítas na militarização de sua gente visando a derrota dos bandeirantes e consequente expansão dos missionários, que “retomaram a tarefa histórica de construir uma civilização, com base no trabalho forçado dos indígenas, por índole revéis ao trabalho agrícola preferindo o pastoreio”.
Toda essa contextualização é válida ao o que Ducatti Neto revela que o caminho trilhado pelos jesuítas, atravessando o rio Uruguai, no o do Goio-En, seria percorrido, naquela época, por tropeiros procedentes de São Paulo. Sendo assim, “pelo rastro dos jesuítas, trilhou a segunda bandeira de Raposo Tavares”. Com isso, o autor defende que o território onde hoje se encontra Erechim, foi caminho para o transporte da erva-mate recolhida onde hoje se encontra o município de Soledade com destino aos sete povos da região missioneira em uma época anterior à tratada na maioria dos livros que abordam a história da região. “Mais tarde, esvaziados os Sete Povos, cessou esse trânsito de erva-mate, mas as rodas das carretas haviam deixado sulcos profundos daquelas longas e penosas jornadas”.